Uma das coisas mais importantes que aprendi nesses 25 anos de pesquisas genealógicas e que não canso de repetir é:
NUNCA CONFIE EM PESQUISAS FEITAS POR TERCEIROS!
Isso vale para buscas feitas por funcionários de cartórios de registro civil, por secretários de dioceses (cúrias), arquivistas etc. Desconfie sobretudo de respostas dadas por telefone e por e-mail! Uma busca só pode ser dada como terminada com êxito negativo quando você se certificar com seus próprios olhos que um determinado registro não se encontra nos livros de determinado cartório, paróquia ou arquivo público.
Não quero aqui apontar o dedo para esse ou aquele profissional, pois há muitas variáveis a serem consideradas (carga de trabalho, baixos salários etc.). Todavia, sinto que é meu dever conscientizar de forma permanente o maior número de pessoas de que respostas negativas não significam que o registro procurado não existe!
Recebo diariamente mensagens pelas redes sociais e por e-mail em que me narram de forma fatídica: “procurei no cartório da cidade X, na cidade Y e em toda a região e não achei a certidão“. E infelizmente a maioria das pessoas realmente acreditam que aquela resposta negativa significa o fim da linha. Nada mais falso.
Salvo honrosas exceções, a esmagadora maioria dessas pesquisas é feita de forma apressada, sem método e sem esmero. Vou citar aqui um exemplo bem recente:
Após pesquisar num CHF (centro de história da família), a pessoa interessada já havia encontrado o registro de casamento de um antepassado num cartório de registro civil do interior de São Paulo em 1894. Ela tinha a data de casamento exata, mas não informou ao cartório o número do termo (também denominado assento ou registro) e o número da folha, dados que sempre vale a pena informar, caso se saiba.
Mesmo com a data de casamento exata, o cartório deu esta resposta:
No índice do livro que abrange aquela data, o nome do noivo consta de forma absolutamente legível, mas apenas com uma letra de diferença: em vez de “Antonio Picotti” no índice estava “Antonio Picutte“.
Portanto, além de desconsiderar algo absolutamente evidente, mesmo de posse de uma data concreta o funcionário do cartório não teve a iniciativa de procurar diretamente na data informada, algo que poderia ter feito folheando apenas umas dez páginas, algo que não lhe tomaria nem cinco minutos.
Este é um caso de extrema facilidade, mas mesmo assim recebeu uma resposta negativa. Imaginem então casos que realmente apresentam dificuldades, como caligrafias de difícil leitura, registros que não foram anotados nos índices, inversões de nome e sobrenome (em vez de constar no A de Antonio, o índice traz a menção ao registro na letra P de Picotti), entre outras dificuldades.
A pergunta que imediatamente vem à tona é: mas, então, o que eu posso fazer se o cartório ou a cúria não pesquisam direito?!
A primeira coisa a fazer é verificar se é possível fazer uma pesquisa com os próprios olhos:
- Se o local e período do registro está disponível online no FamilySearch: mãos à obra. Este é o melhor dos mundos.
- Se o local e período do registro está disponível online no FamilySearch, mas está “trancado” (aparece o ícone de uma câmera fotográfica com uma chave em cima), será necessário ir a um CHF (centro de história da família). Há CHF em todas as grandes e médias cidades brasileiras.
- Se não há nada online, solicite a busca informando a maior quantidade de dados possível. Se a resposta for negativa, solicite uma certidão negativa que especifique com exatidão o período e os termos pesquisados (quais nomes e em que ordem, sobretudo se há várias grafias: Umberto/Humberto; Giovanni/João etc.).
A certidão negativa provoca (ou deveria provocar) uma pesquisa mais diligente e minuciosa, visto que é um documento que deve ser pago pelo requerente e é uma resposta “oficial”. Contudo, não pense que os cartórios se preocupem muito por ter dado uma certidão negativa e que depois se demonstra errada porque o interessado acho o registro por outros meios. Qualquer mínima divergência no pedido pode ser a desculpa que eles irão usar, até mesmo um caso como “Antonio Picotti” que no índice estava “Antonio Picutte“.
Por fim, convido todos à leitura, caso ainda não tenho feito, de dois meus artigos anteriores diretamente ligados ao tema que envolve pesquisa de registros:
- Decálogo para pesquisas em cartórios brasileiros
- Os livros-talões de registro civil e a pesquisa genealógica
É importante ter paciência, método e perseverança. Não queiram resolver lacunas de décadas (ou de até mais de um século) em quinze dias de pesquisa, nem sempre isso é possível. Não saiam desesperados contratando advogados para fazer registros tardios! É natural que muitos advogados prefiram esse caminho porque é evidentemente mais lucrativo. Alguns deles chegam até mesmo, de maneira totalmente antiética, a contar as mesmas histórias da carochinha para incentivar o potencial cliente a abrir um processo de “suprimento de registro civil” (registro tardio). Aos meus amigos advogados, como sempre, repito: não estou falando de todos os advogados, mas infelizmente de vários deles.
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