Um dos grandes desafios que os iniciantes no mundo da genealogia encontram é a tarefa de decifrar caligrafias de cartorários, oficiais de registro civil, padres etc. presentes nos registros mais antigos. Normalmente, quanto mais antigo o registro, mais difícil é decifrar sua caligrafia.
Não quero aqui abordar questões complexas da paleografia, mas dar algumas dicas básicas.
Ao tentar decifrar nomes, sempre opte pelo palpite mais simples!
- Se está em dúvida entre Rutônio e Antônio, opte por Antônio.
- Se está em dúvida entre Rofa ou Rosa, opte por Rosa.
- Se está em dúvida entre Monra ou Moura, opte por Moura.
- Se está em dúvida entre Fanares ou Tavares, opte por Tavares.
É obviamente importante ter um bom domínio da língua do registro, mas nem sempre isso é fácil.
Se estiver lendo registros italianos, por exemplo, para os prenomes (nomes de batismo) imprima uma lista dos nomes mais comuns (veja uma lista AQUI). Já para os sobrenomes, como na Itália existe uma intensa regionalização dos nomes de família, tente preparar uma lista de sobrenomes mais comuns da localidade que estiver pesquisando.
Na dúvida, peça ajuda nos grupos especializados no Facebook, mas tente discernir quem realmente entende da matéria e quem é um franco-atirador (vulgo “palpiteiro”), cuja atividade recreativa é opinar sobre qualquer coisa na ânsia de deixar registrado o seu comentário, mesmo que não tenha a mais mínima ideia do que está dizendo.
Outro dado muito importante: nomes extravagantes, aqueles inventados ao acaso, são um fenômeno de massa muito recente. No Brasil, começaram a se tornar comuns a partir das décadas de 1930 e 1940. Em outros países, como Itália ou Portugal, continuam raríssimos até hoje.
Portanto, quando estiver lidando com registros com mais de 80 anos, mesmo os brasileiros, opte decididamente pelo mais simples. Se acha que está lendo “Gustino” porque aquele J maiúsculo se assemelha a um G, reflita, e lembre que o nome “Gustino” na verdade não existe, mesmo que alguém possa algum dia ter se chamado “Gustino”. Assim, opte por Justino.
A quem gosta de indexar registros no lindíssimo trabalho coordenado e patrocinado pel’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (os mórmons), eu faço um apelo veemente: por favor, levem a indexação a sério! Não indexem registros de línguas que vocês não dominem, mesmo o espanhol. Se você domina apenas a língua portuguesa, indexe apenas registros em português e preferencialmente apenas os registros brasileiros.
Eu entendo que o objetivo dos projetos de indexação seja indexar a maior quantidade possível de registros e disponibilizá-los a todos nós, mas infelizmente está cada vez mais frequente ver indexações de baixíssima qualidade, pois muitos arriscam qualquer coisa e nomes muito simples como Donato, Teixeira ou Albuquerque acabam se tornando “Conaso”, “Jupira” e “Aleifufue”!
Para concluir: Menos é mais! Less is more! Meno è di più!
Adendo de abril de 2020
Como adendo a este artigo de abril de 2019, trago um exemplo com o qual me deparei hoje. Trata-se do nome do pai do noivo num registro de casamento celebrado no Rio de Janeiro em 1929. Eis na imagem abaixo o nome do pai do noivo:
Que nome você lê nesta imagem? Bom, a resposta é mais do que óbvia: “Eugenio“! Todavia, o indexador e depois o conferente enxergaram nessa imagem o nome… wait for it… “Eugceiro“!
Este erro nos mostra algumas coisas:
1) O indexador e o conferente estavam com muita pressa e pouca prudência.
2) Ao decifrar o nome, o indexador optou por fragmentá-lo letra por letra e não se atentou que “Eugceiro” era uma opção impossível, pois é claro que não há nenhuma letra entre “i” e “o”.
3) O indexador e o conferente não ativaram o próprio “desconfiômetro”. Ao ler um nome absolutamente extravagante devemos ativar o nosso “desconfiômetro onomástico”, verificando que tipos de nomes que acompanham aquele outro nome que você quer decifrar. No caso do “Eugenio” do meu exemplo, os seus sobrenomes são “Rodrigues de Sousa”, ou seja, um nome integralmente português (ou luso-brasileiro). Portanto, não se justifica a possibilidade de ser um nome totalmente desconhecido do indexador, algo que pode ocorrer no caso de nomes de pessoas de culturas “distantes” (suponhamos, lituanos ou coreanos).
4) O indexador e o conferente não usaram o bom senso que está resumido no título deste artigo: na dúvida opte sempre pelo mais simples: se está em dúvida entre “Eugceiro” e “Eugenio”, escolha “Eugenio”!
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